Os periódicos publicados no meio científico são a melhor de
forma de conseguir visibilidade para a sua pesquisa e de se informar com o que
está acontecendo de mais avançado mundo afora.
Todos defensores de direitos humanos tem no discurso de
Matrin Lhter King “ Eu tenho um sonho” a Bilbia dos Direitos Humanos sem
distinção de credo, raça ou religião.
Celso Dias Neves
Embaixador Presidente World Parlament of Security And PeaceBrasília DF Brasil.
Estou contente de me reunir hoje com vocês nesta que será
conhecida como a maior demonstração pela liberdade na história de nossa nação.
Há dez décadas, um grande americano, sob cuja sombra simbólica nos encontramos
hoje, assinou a Proclamação da Emancipação. Esse magnífico decreto surgiu como
um grande farol de esperança para
milhões de escravos negros que arderam nas chamas da árida injustiça. Ele
surgiu como uma aurora de júbilo para pôr fim à longa noite de cativeiro. Mas
cem anos depois, o negro ainda não é livre. Cem anos depois, a vida do negro
ainda está tristemente debilitada pelas algemas da segregação e pelos grilhões
da discriminação. Cem anos depois, o negro vive isolado numa ilha de pobreza em
meio a um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois, o negro ainda
vive abandonado nos recantos da sociedade na América, exilado em sua própria
terra. Assim, hoje viemos aqui para representar a nossa vergonhosa condição. De
uma certa forma, vimos à capital da nação para descontar um cheque. Quando os
arquitetos da nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição
e da Declaração da Independência (Sim), eles estavam assinando uma nota
promissória da qual todos os americanos seriam herdeiros. A nota era uma
promessa de que todos os homens, sim, negros e brancos igualmente, teriam
garantidos os “direitos inalienáveis à vida, à liberdade e à busca da
felicidade”. É óbvio neste momento que, no que diz respeito a seus cidadãos de
cor, a América não pagou essa promessa. Em vez de honrar a sagrada obrigação, a
América entregou à população negra um cheque ruim, um cheque que voltou com o
carimbo de “sem fundos”. No entanto, recusamos a acreditar que o banco da
justiça esteja falido. Recusamos a acreditar que não haja fundos suficientes
nos grandes cofres de oportunidade desta nação. E, assim, viemos descontar esse
cheque, um cheque que nos garantirá, sob demanda, as riquezas da liberdade e a
segurança da justiça. Viemos também a este glorioso local para lembrar a
América da urgência feroz do momento. Não é hora de se comprometer com o luxo
do comedimento ou de tomar o tranquilizante do gradualismo. Agora é hora de
concretizar as promessas da democracia (Sim, Senhor). Agora é hora de deixar o
vale sombrio e desolado da segregação pelo caminho ensolarado da justiça
racial. Agora é hora de conduzir a nossa nação da areia movediça da injustiça
racial para a sólida rocha da fraternidade. Agora é hora de tornar a justiça
uma realidade para todos os filhos de Deus. Seria fatal para a nação ignorar a
urgência do momento. Este verão sufocante do legítimo descontentamento dos
negros não passará até que haja um outono revigorante de liberdade e igualdade.
O ano de 1963 não é um fim, mas um começo. E aqueles que agora esperam que o
negro se acomode e se contente terão uma grande surpresa se a nação voltar a
negociar como de costume. E não haverá descanso nem tranquilidade na América
até que se conceda ao negro a sua cidadania. As tempestades da revolta
continuarão a balançar os alicerces da nossa nação, até que floresça a luminosa
manhã da justiça. Mas há algo que devo dizer a meu povo, diante da entrada
reconfortante do Palácio da Justiça: ao longo do processo de conquista do nosso
merecido lugar, não podemos nos condenar com atos criminosos. Não devemos
saciar a nossa sede de liberdade bebendo da taça da amargura e do ódio. Devemos
sempre conduzir a nossa luta no mais alto nível de dignidade e disciplina. Não
podemos permitir que o nosso protesto degenere em violência física. Vezes sem
fim, devemos nos elevar às majestosas alturas para confrontar a força física
com a força da alma. A nova e maravilhosa militância que engolfou a comunidade
negra não deve nos levar a desconfiar de todos os homens brancos, pois muitos
de nossos irmãos brancos, como se torna evidente com a sua presença aqui hoje,
compreenderam que o seu destino está ligado ao nosso. Eles compreenderam que a
sua liberdade está atada à nossa, de forma inextricável. Não podemos caminhar
sozinhos. E, enquanto caminhamos, devemos prometer que sempre marcharemos
adiante. Não podemos voltar. Há quem pergunte aos devotos dos direitos civis:
“Quando ficarão satisfeitos?” (Nunca). Não ficaremos
satisfeitos enquanto o negro for vítima dos inenarráveis horrores da
brutalidade policial. Não ficaremos satisfeitos enquanto os nossos corpos,
pesados pela fadiga da viagem, não obtiverem hospitalidade nos hotéis das
rodovias e das cidades. Não ficaremos satisfeitos enquanto a única mobilidade
social a que um negro possa aspirar seja deixar o seu gueto por um outro maior.
Não ficaremos satisfeitos enquanto os nossos filhos forem despidos de sua
personalidade e tiverem a sua dignidade roubada por cartazes com os dizeres “só
para brancos”. Não ficaremos satisfeitos enquanto o negro do Mississippi não
puder votar e o negro de Nova York acreditar que não há por que votar. Não e
não. Não estamos satisfeitos e nem ficaremos satisfeitos até que “a justiça
jorre como uma fonte; e a equidade, como uma poderosa correnteza”. Não ignoro
que alguns de vocês enfrentaram inúmeros desafios e adversidades para chegar
até aqui (Sim, Senhor). Alguns de vocês recentemente abandonaram estreitas
celas de prisão. Alguns de vocês vieram de regiões onde a busca por liberdade
deixou-os abatidos pelas tempestades da perseguição e abalados pelos ventos da
brutalidade policial. Vocês são os veteranos do sofrimento profícuo. Continuem
a lutar com a fé de que o sofrimento imerecido é redentor. Voltem para o
Mississippi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para
a Geórgia, voltem para a Louisiana, voltem para os cortiços e para os guetos
das cidades do Norte, conscientes de que, de algum modo, essa situação pode e
será transformada (Sim). Não afundemos no vale do desespero. E digo-lhes hoje,
meus amigos, mesmo diante das dificuldades de hoje e de amanhã, ainda tenho um
sonho, um sonho profundamente enraizado no sonho americano. Eu tenho um sonho
de que um dia esta nação se erguerá e experimentará o verdadeiro significado de
sua crença: “Acreditamos que essas verdades são evidentes, que todos os homens
são criados iguais” (Sim). Eu tenho um sonho de que um dia, nas encostas
vermelhas da Geórgia, os filhos dos antigos escravos sentarão ao lado dos
filhos dos antigos senhores, à mesa da fraternidade. Eu tenho um sonho de que
um dia até mesmo o estado do Mississippi, um estado sufocado pelo calor da
injustiça, sufocado pelo calor da opressão, será um oásis de liberdade e
justiça. Eu tenho um sonho de que os meus quatro filhos pequenos viverão um dia
numa nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo de
seu caráter (Sim, Senhor). Hoje, eu tenho um sonho! Eu tenho um sonho de que um
dia, lá no Alabama, com o seu racismo vicioso, com o seu governador de cujos
lábios gotejam as palavras “intervenção” e “anulação”, um dia, bem no meio do
Alabama, meninas e meninos negros darão as mãos a meninas e meninos brancos,
como irmãs e irmãos. Hoje, eu tenho um sonho. Eu tenho um sonho de que um dia
todo vale será alteado (Sim) e toda colina, abaixada; que o áspero será plano e
o torto, direito; “que se revelará a glória do Senhor e, juntas, todas as
criaturas a apreciarão” (Sim). Esta é a nossa esperança, e esta a fé que
levarei comigo ao voltar para o Sul (Sim). Com esta fé, poderemos extrair da
montanha do desespero uma rocha de esperança (Sim). Com esta fé, poderemos
transformar os clamores dissonantes da nossa nação em uma bela sinfonia de
fraternidade. Com esta fé (Sim, Senhor), poderemos partilhar o trabalho,
partilhar a oração, partilhar a luta, partilhar a prisão e partilhar o nosso
anseio por liberdade, conscientes de que um dia seremos livres. E esse será o
dia, e esse será o dia em que todos os filhos de Deus poderão cantar com um
renovado sentido: O meu país eu canto. Doce terra da liberdade, a ti eu canto.
Terra em que meus pais morreram, Terra do orgulho peregrino, Nas encostas de
todas as montanhas, que a liberdade ressoe!
E se a América estiver destinada a ser uma grande nação,
isso se tornará realidade. E, assim, que a liberdade ressoe (Sim) nos picos prodigiosos
de New Hampshire. Que a liberdade ressoe nas grandiosas montanhas de Nova York.
Que a liberdade ressoe nos elevados Apalaches da Pensilvânia. Que a liberdade
ressoe nas Rochosas nevadas do Colorado. Que a liberdade ressoe nos declives
sinuosos da Califórnia (Sim). Mas não apenas isso: que a liberdade ressoe na
Montanha de Pedra da Geórgia (Sim). Que a liberdade ressoe na Montanha Lookout
do Tennessee (Sim). Que a liberdade ressoe em toda colina do Mississippi (Sim).
Nas encostas de todas as montanhas, que a liberdade ressoe! E quando acontecer,
quando ressoar a liberdade, quando a liberdade ressoar em cada vila e em cada
lugarejo, em cada estado e cada cidade, anteciparemos o dia em que todos os
filhos de Deus, negros e brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos,
juntarão as mãos e cantarão as palavras da velha canção dos negros:
Livres afinal! Livres afinal! Graças ao Deus Todo-Poderoso,
Estamos livres afinal!Proferido na Marcha por Trabalho e Liberdade, em Washington, D.C., em 28 de agosto de 1963
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